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quarta-feira, 25 de setembro de 2013




Flor da Gratidão

Eu já sonhei em ser camponesa,
Já sonhei em estudar montanhas,
Já sonhei tanto... e ainda sonho,
Como uma criança.

Mas meu maior desejo é viver deslumbrada,
É querer que a gente se ilumine (porque tudo é lindo!).
Até a lágrima eu almejo, para depois sorrir,
Pois que é pura e genuína,
E me faz despertar humana... (que eu nunca esqueça isso!)

Recebi de presente esta imagem:
A de uma moça antiga em um campo de flores
Segurando delicadamente o talo de uma rosa...
E se sou eu a moça antiga, não irei arrancá-la com pressa.
Talvez eu nem a arranque...

E, assim, numa narrativa inventada,
Depois de longos dias de trabalho,
A moça antiga pensa: “pra quê matar essa flor? Ela é tão bonita!”
Há uma memória de que a vida é o enfeite do amor...
Sempre com flores, sua mãe decorava e perfumava a casa...
E agora, a moça antiga tem o seu próprio lar.

Vendidas a tantos namorados:
As rosas delicadas são alicerces majestosos...
Não há nada mais encantador que deitar num campo repleto de flores
E olhar o céu
E olhar o mundo...

A moça antiga finalmente decide colher a rosa.
Mas você lembra que essa imagem foi um presente que eu recebi?
Devolvo outra em seu lugar.

Esta é a nova tela:
Ela escolhe a rosa mais bela, olha com cuidado, quebra o talo e se ergue,
Com a ponta dos dedos da mão direita acaricia as pétalas,
Sente o perfume...
Vem caminhando para fora da pintura e diz:
“Esta é a flor da gratidão!”...
Ergue a mão esquerda, a do coração,
Entrega a você com serenidade, e volta ao campo de flores
Sem olhar para trás.

Daline Gerber

terça-feira, 23 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011


Tudo o que tenho cheira a ar.
E eu ofereço.
Você quer?
Os amigos provam, engolem e gargalham,
fazem barulhos,
lembram absurdos do tempo vivido
Um e outro fica muito comovido...
Eu respiro.
Aproveito o ultimo segundo,
desperdiço,
Ele me foge.
Engoli uma garrafa,
ontem ou há muito tempo,
que borbulha e que fumaça,
é poesia, é desgraça,
me faz sábia, popular,
mendiga, rica,
cética e palhaça.
Engoli um almoço e uma janta,
Lambi a lágrima de uma giganta,
deitei na grama e acordei no inferno...
meu homem bom não sabe o tom, nem usa terno.
Meu homem bom tem a coragem de um camponês,
fere a terra, semeia vento e planta insensatez...
E ele vem, em desengonço, meio troncho,
vendendo verde, certos legumes,
contando causos,
mostra o que traz nas mãos,
E ela vê, a mulher amada.
ele traz, depois de um longo dia, depois de calos e pés na estrada:
Um grão de milho meio tristonho,
para plantar feijão e crescer, um sonho.
Ingênuo, imagina que sua mão é flor e segura suavemente a face do seu amor.
mas a mão é áspera...
Eu engoli a mão áspera do meu homem bom,
tinha unhas sujas...
E engoli um litro de sabão.
Há bolhas por aí, frutos do meu soluço, enquanto falo,
enquanto escrevo, olha a bolha em forma de trevo!...
cuidado... a bolha... cuidado com meu trevo!
Cuidado com o meu ar, o meu jasmim, o meu percevejo!

Daline Gerber

segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Corpo ao ar livre.
Livre. Corpo. Ao ar.
Enquanto meus olhos,
pés fixos,
Observam.
Observam meus olhos,
Fixos, meus pés.
Eles voam e vivem: pássaros no céu.
E, com eles, vôo.
Vou.
Vivem.
Vivo.
E agora mais.
Mais vôo.
Canto.
Também minha voz vai.
Se esvai.
Eu observo de lá...
O mundo é tão grande.
Eu tão pequena, tão só.
O tempo caminha comigo,
Voa,
E traz, ventando, florindo,
Uma ave ao longe, segundo a segundo,
Se aproximando,
Uma ave...
A mulher companheira.
E eu, beira a beira,
quer queira, não queira...
Ela vem.
Esbarra na minha saia,
asa,
Na palavra que diz, não diz...
eu peço olhar,
Ela olha.
E agora sim,
Estou por um triz...
E não entendo bem
de onde vem meu bem.
O sentimento... invento? Não, surge inexplicável.
Em movimento,
estendo a mão.
E continuo dentro,
trago de fora acalento,
carinho na orelha,
susto de tempestades,
silêncios angustiantes,
um pouco de medo dos segredos,
medo.
Frio.
Entre suas pernas, minhas mãos se aquecem e fervem.
Eu brinco por ali e fico.
dois pedaços de concha: nós.
Temos uma pérola para cuidar...
Livres, ao ar, pés fixos, corpos solares,
Fundo do mar...
Fica!
Eu te quero saber a-mar.

Daline Gerber




segunda-feira, 1 de agosto de 2011


Há ilusão de dentro para fora. Há mentiras por verdades e acreditamos que elas são, de fato, verdades, pois o sentimento confuso-certo não consegue expressar com clareza a sua intensidade, a sua tendência, o seu querer perene... o querer é perene?

Mas existe também o fato do passado ocorrido, feito, exercido, vivido, isso é físico, concreto... não é possível mudá-lo. Entretanto, um texto falado, escrito, gesticulado o conta como bem quer. Você pode mentir e mente. Quem te lê e escuta terá de você a tua palavra e acreditará nela. Mas se ela for mentirosa...

"Quantas vezes mais mentirá?" É a pergunta do teu interlocutor.

E por mais que você queira que ele acredite, depois de ter mentido, ele não acreditará mais tanto em você...

A verdade do que sentimos são várias, mas a verdade do que vivemos é uma só. É perigoso manipular a verdade dos fatos ocorridos em nosso favor em troca de um sorriso... ao descobrir o falseamento do que ocorreu de fato, o sorriso se transforma em silêncio sério, triste, em lágrima, desconfiança. A fé no invisível se esvai, fica apenas como tentativa, nunca como entrega.

Eu sempre digo que vivemos num mundo de ilusões, porque as pessoas não estão dispostas a verdade: a ouvir e a falar... brigam, xingam, ignoram, temem... é preciso compreensão. Eu tenho. Mas fé, confiança em tudo de bonito que meu semelhante diz... não. Eu quero o feio, o obscuro, eu quero evoluir, é preciso expôr o figado adoentado ao tato e olhar do médico para que ele o trate. Só assim.

Daline Gerber

sexta-feira, 29 de julho de 2011


Esperei por ela. Chovia. Se atrasou. "Te amo, já estou indo, me espera, tô chegando, te amo, tá?". Saudade. Meia hora. Poxa vida! Cadê que ela não vem? Mas vinha. Chegou. "Vem!". Me abraçou. Beijou o canto da minha boca. Calor súbito, desejo, calafrio. É, eu gosto mesmo dela. Se eu sinto ciúmes? Sinto um pouco. "Que saudade, meu amor!"...

Sorri lindamente. Eu a observo estupefata. Quero sua boca na rua, no portão, na varanda. Mas há que se esperar um pouco mais... por medo, por respeito. Ansiedade ante a casa onde podemos nos expressar, nos dar. Abre a porta, fecha e se encaixa no meu abraço, tira meu corpo da solidão, desnuda minha alma que se rende. Quanta saudade!

Deita na cama e me olha com amor. Há esboço de lágrima em minha lembrança, encanto, vontade de ser feliz. Sinto seu corpo e suas reações me movem, me agitam, fazem com que meu afeto se declare, transpiro, assumo meu desejo de tê-la comigo pra sempre. Aperto seu corpo contra o meu e desabo emocionada, rendida, mulher. E dormimos abraçadas.

Amanhece. Amanhece e temos um novo mundo para conhecer, diferente do de costume, muito mais significativo, mais expressivo, mais... tangível! Vamos juntas, de mãos dadas.

Neste lugar campestre, há cavalos puxando com lábios fortes o mato rasteiro; enquanto que bois e vacas trançam o mato alto em suas línguas e se alimentam... e naquele morro, depois da cerca... "Vamos?!!!"... Vou na frente correndo, pisando no chão de SER FELIZ... E afirmo que o que estamos fazendo é mais complexo e especial, estamos explorando o mundo. No topo, vemos alguma paisagem, há árvores e plantas, animais, tucanos, pássaros, dóceis cachorros... e há a mulher que eu tanto amo. Me alerta sobre carrapatos. Me assusta. Bato a roupa. Vamos embora! E vamos, eu correndo...

Noutro lugar, mais alto, porém sem carrapatos, brincamos e sentamos para contemplar a natureza e nos contemplamos. A tarde cai rapidamente. Nos abraçamos. Nos despedimos...

Saudade... Ah... saudade!

Daline Gerber

segunda-feira, 25 de julho de 2011



Para que eu possa dizer: silêncio.
Meus olhos e ouvidos, meu coração.
Amar não cabe em definições...
Eu tenho uma casa montada em cima do planeta Terra.
Debaixo da casa... meus ancestrais.
O tempo dissolve minha vida e a casa, a casa...
Trincada, fria, sem mim,
A casa permanece, não é pobre nem rica.
É só um lugar, como um campo, um lago,
Um lugar onde gente viva ri, canta, chora, se protege...
Um lugar.
No mundo...
Um lugar pra mim: o mundo.
Um lugar pra mim: o afeto de quem amo,
O beijo da mulher amada,
O abraço de amigos,
A lembrança da família.
Eu observo:
Meu corpo é um lugar.

Daline Gerber